Olá, amigos escritores e entusiastas! Hoje tenho a oportunidade de compartilhar convosco um pouco dos textos maravilhosos de Yasmine Figueiredo. Tenho certeza de que irão se apaixonar pelo estilo literário dela e pelas aventuras dos personagens.
Seis meses no teu coração
- Que desejam?
- Nada de especial, “estamos só a ver” … - respondeu o moreno com ar de quem avaliava a bonita moça que o enfrentava tão duramente.
- Estou a trabalhar e não tenho disposição nem paciência para brincadeiras - respondeu Elisa, visivelmente aborrecida.
O olhar perplexo do seu interlocutor, mostrou a Elisa que este não esperava uma resposta tão inesperada e uma reação tão brusca e decisiva, especialmente de uma pessoa com aparência tranquila e doce, como ela tinha. Até mesmo ela, se surpreendeu de si própria, mas nem por isso cedeu, não lhe agradavam pessoas que feriam os sentimentos dos outros por simples diversão.
Na verdade, não lhe gostava os homens que apenas pelo facto de, serem homens, se achavam superiores e olhavam as mulheres como oportunidades de divertimento.
Refeito da sua surpresa, ele respondeu:
- Desculpe, não queria ofendê-la…
- Não lhe ligue – disse o amigo que vinha com ele, e que de longe assistia à cena, acrescentando – mas olhe que ele é casado!
- Não estou interessada na informação, pois não pretendo casar com ele – respondeu Elisa, mal disfarçando um sorriso. Sorriso que foi interpretado como descrença, pelo que o moreno prontamente lhe mostrou o Bilhete de Identidade, onde Elisa leu que seu nome era Jorge e leu também o estado civil de Jorge..."
Seis meses no teu coração - O reencontro
Raul encheu o peito de ar e iniciou contando a Elisa que Valentina era uma colega de trabalho…
Quando terminou de falar, Elisa estendeu a mão para ele. Colocando as mãos do filho entre as suas, disse olhando-o seriamente:
- Pelo que me contas, essa moça está a fazer-te bem. Vejo um brilho de entusiasmo no teu olhar quando falas dela. Tem cautela, tenta conhecê-la bem. Quando tiveres a certeza dos teus sentimentos, abre o coração para ela…o pior que poderá acontecer é ela sair correndo – disse Elisa rindo
- Mãe! Eu tenho sentimentos! – disse Raul com falsa indignação, entrando também na brincadeira da mãe.
Elisa tinha um sentido de “humor refinado”, como Raul costumava dizer. Mais uma vez conseguiu falar algo sério com aquele toque de sarcasmo tão próprio dela.
- Falando a sério…pelo que me contas eu acho que ela gosta de ti! Nunca magoes o coração de alguém que é inocente, por isso o que te digo é que vás com cautela e se perceberes que é a mulher indicada para ti, então avança…não percas mais tempo…a vida é muito curta! – neste ponto da conversa, a voz da mãe adquiriu um tom triste e melancólico.
Raul beijou as mãos da mãe com carinho.
- Não fiques triste, mãe. Vou fazer como dizes, e se ela for “a mulher”, aquela que é “a certa”, farei questão que a conheças!
- A “nossa” casa estará aberta para a tua escolhida também!
No resto da semana, Raul sentiu-se mais leve por ter desabafado com a mãe. Sentiu-se também mais confiante com a autoanálise que fez das suas atitudes e das conversas que tinha tido com Valentina...
Sobre a Linha do Equador
Ema levantou-se visivelmente aborrecida, tinha passado pouco mais quatro dias desde que chegara à ilha, mas as contrariedades não paravam de aparecer. Já se tinha apercebido do cinismo e falsa preocupação com eles, por parte do casal que geria a empresa ali. Tudo o que falavam, era um “mar de dificuldades”, nunca tinham uma conversa construtiva com eles, nem lhes transmitiam nenhuma segurança, sendo que tanto Ema como Cristiano eram seus conterrâneos recém-chegados ao país, mas isso para os dois não fazia a mínima diferença.
Nessa tarde quando chegaram a casa, Cristiano contou que se iria mudar no próximo fim de semana para o anexo ao fundo do quintal. Ema foi com ele, para ver as novas instalações do colega, era composto de um anexo fechado, onde estava um frigorifico, um lava louça, um WC com Chuveiro, e uma divisão contígua com pouca luz natural que se destinava ao quarto. Cem euros por aquilo? – Ema pensou que era um disparate, mas nada disse a respeito.
Todos os dias cada um deles entregava cem mil dobras a Maria, para ela poder comprar os ingredientes para fazer o almoço deles. Nunca havia troco, nem se prestavam contas do valor do que era comprado…assim era em São Tomé. Ficara a saber que muitas “empregadas” cozinhavam a mais para levar para suas casas e alimentar as suas famílias, claro que à custa dos “patrões”!
Numa dessas manhãs, quando pararam para tomar café na Pastelaria Central antes de irem para a empresa, e não suportando a pressão com a questão da casa que parecia ter-se tornado o assunto favorito de Ana e Marcelo, Ema levantou-se da mesa e dirigiu-se ao balcão:
- Desculpe D. Hilda – disse Ema para uma das proprietárias portuguesas da Pastelaria Central, senhora que lhe parecia ser a mais cordial e acessível...
A lebre parou de lançar biscoitos para dentro do bule e olhando Rayza fixamente, perguntou-lhe:
- Pressa de viver? Será que ele quer morrer mais depressa? – e dizendo isto, voltou â sua tarefa anterior, mas desta vez, atirava os biscoitos para dentro das chávenas vazias, já que o chapeleiro louco continuava a verter o chá para os pires meticulosamente, o que deixava Rayza mais ansiosa pela resposta.
- Todos temos a mesma quantidade de tempo…depende da forma como o gastamos…é tudo uma questão de perspetiva. – Falou por fim o chapeleiro.
-Perspetiva? O que queres dizer com isso?...
Desassossegos - Contos, Poemas e Prosas
Agressão!?…Não!
Porque ergues a tua mão,
suplicando por carinho
quando devias dizer “não”
e iniciares outro caminho?
Por que te prendes em vão
a uma existência ruim,
agarrando-te à ilusão
que “ser mulher, é viver assim!”
Educaram-te pra seres mãe e boa companheira
e do teu homem suportares,
traições, maus tratos e bebedeira.
Os teus filhos irão crescer
num perverso ambiente
e com esse modelo viver,
uma vida pouco decente.
Nas mãos tens a solução,
a violência não os deixes ver,
humilhares-te não é opção
porque em paz merecem crescer....
Ema ficou sozinha meditando… cada vez tinha mais certeza que aquele homem, era para ela um completo desconhecido, e toda a sua verdadeira face, ou pelo menos aquela que ele agora lhe revelava, era absolutamente detestável para ela. Desprezava profundamente os homens mulherengos que não tinham um pingo de vergonha na cara.
Chorou, chorou muito às escondidas. Chorou pelas agressões sofridas, pelas palavras duras que ele lhe “atirava” e a feriam como se fossem pedras. Chorava agora também pela infidelidade dele. Ser fiel é ter caracter! Não é apenas não cometer atos obscenos, é também não pensar de forma libidinosa, e sempre que pensava no assunto dava-lhe ansias de vomitar.
Deixou passar uma semana, até ganhar coragem para ir a uma obra falar com José. Este era um colaborador que ela conhecia bem, e para cujo casamento ela tinha sido convidada. Ao avistá-la José sorriu, e parou o que estava a fazer. Ema aproximou-se:
- Boa tarde José, já está de saída? – perguntou
- Sim – respondeu ele – é só lavar estas ferramentas, e já vou embora
- Não vou demorá-lo José, sei que tem que ir para casa! Gostaria que me respondesse a uma pergunta com toda a sinceridade, pode ser? – disse Ema em voz mais baixa e aproximando-se mais dele, para que os outros empregados não escutassem a conversa deles
- Diga lá Ema, se eu souber responder... – disse ele com curiosidade
- Sabe de certeza! Alguma vez ouviu dizer, ou assistiu ao Manuel a dirigir-se de uma maneira menos própria para as meninas que passam para o liceu? – perguntou.
José ficou de olhos baixos, e Ema viu claramente que ele estava embaraçado. As palavras que lhe escutou proferir eram contrárias à expressão do rosto dele. Evitava encará-la!...
Lágrimas de mulher
Teresinha com apenas sete anos, sentia a confusão, o medo e a vergonha invadirem-na. Não percebia bem o que estava a acontecer, mas pressentia quer era alguma coisa má, senão o Primo Joaquim não lhe tinha pedido que guardasse segredo sobre o que lhe tinha feito.
Desde que entrara na escola primária, era ele que a levava a ela e à irmã para a escola, e depois as ia lá buscar sempre que isso fosse possível para ele. Ele tinha vindo para Lisboa aprender uma profissão e por isso ficara hospedado em casa da sua tia, que era também a avó de Teresa. Já lá vivia outro primo, o Francisco, mas esse era mais velho que o Joaquim e dava-lhe a comer a sopa, ao mesmo tempo que lhe contava histórias que a deliciavam e a faziam esquecer a sopa que acabava por comer contrariada.
Algumas vezes quando se encontrava sozinho com ela, Joaquim tocava no corpo dela e, ela fugia-lhe. Hoje tinha colocado a mão dentro das cuecas dela depois de a sentar nas pernas dele, Teresinha tinha conseguido fugir dele, mantendo a mesa da sala de jantar entre os dois.
-Não tenhas medo. Eu gosto muito de ti, só quero fazer-te carinho!
Teresa era uma criança tímida e assustadiça. Sentia-se desconfortável perante aquela atitude dele que não compreendia bem.
- Eu não quero! – disse assustada....
Nuvens de Guerra
Valentin Von Heildelberg, recordava o dia e lugar onde tinha visto Amélie pela primeira vez, quando ouviu bater na porta da saleta. Imbuído que estava nas suas recordações, sobressaltou-se um pouco com o som das batidas e exclamou:
- Entre!
Gael assomou na entrada, dizendo:
- Perdão, mas acabou de chegar meu sobrinho Herr Rolf Hahn, para falar consigo! Posso fazê-lo entrar? – perguntou
- Claro que sim! – disse Valentin, levantando-se da sua poltrona favorita junto à janela, e avançando uns passos pelo escritório em direção à porta.
Gael introduziu na saleta, um homem magro, pálido e de olhar vivo e inteligente. Tinha algumas parecenças físicas com Gael, quando este era mais jovem. Apertaram as mãos e o aperto do homem era firme e decidido, o que agradou a Valentin.
- Sente-se por favor, Herr Hahn! – exclamou Valentin, indicando-lhe uma poltrona perto daquela que ele mesmo ocupava.
- Muito obrigada por me receber Herr Von Heildelberg! – disse o homem em voz agradável enquanto se sentavam...
Regresso ao Passado
Sentada em frente da Dra. Cristina, desta vez apenas se encontravam as duas no gabinete, Ema iá estendendo-lhe por vez vários documentos, que depois de examinados eram colocados pela advogada, numa pilha sobre a secretária.
- Aqui estão os comprovativos das despesas que paguei quando cheguei a Portugal, dividas que Manuel originou em meu nome. A conta de telefone que deixou de pagar, dois meses após eu ter partido. A conta de supermercado, que ele nunca pagou, e que teve como origem o gasto do plafond do meu cartão do supermercado, cartão que após a minha partida, foi-lhe enviado por correio, em meu nome, juntamente com o pin respetivo, e ele usou abusivamente para compras que fez na altura do natal de 2003, note-se que eu viajei em outubro do mesmo ano. A conta de telemóvel, que se comprometeu a pagar para que eu pudesse falar com os meus filhos, mas que nunca pagou. A conta de uma enciclopédia que adquiri para os meus filhos estudarem, e que ele jamais pagou as prestações. Tem aqui uma relação dos bens que ficaram na casa de família, eletrodomésticos e afins. Outra relação de toda a maquinaria, ferramentas e outros materiais pertencentes à empresa e, que ele, em grande parte, já alienou sem meu consentimento. Tem aqui o comprovativo da colocação, por ordem dele, do meu cartão de débito em lista negra sem que eu o tenha pedido, e com a cumplicidade do gerente da agência, no Banco de Investimento.
- Meu Deus, o carácter do seu marido é inqualificável – disse a advogada
- Perdão Dra., permita-me discordar, o meu marido não tem qualquer carácter, nem sabe o que isso é – continuou Ema, aparentemente imperturbável – sobre esse assunto, tenho a dizer-lhe que há dois meses entrei numa agência desse banco, e pedi ao caixa que me confirmasse o estado do meu cartão de débito, após me ter identificado. Foi ele aliás, que me imprimiu, a meu pedido esses dados. O cartão estava em lista negra, mas não consta, como pode ver, qualquer motivo para tal fato. Entretanto como a conta é solidária, ele perguntou se eu queria que me emitisse outro cartão, então perguntei-lhe se a conta estava provisionada, e respondeu-me afirmativamente.
- E o que fez? – perguntou a advogada curiosa...
-Boris, lembras-te de quando foste a minha casa e conheceste os meus pais?
-Perfeitamente! - respondeu Boris com um sorriso.
-Disseste-me que gostaste muito de falar com eles e que te pareceram ser pessoas impecáveis, não foi?
Boris que se encontrava atento à conversa de Nina, caminhando com ela tranquilamente em direção ao lago, ao se aperceber que algo perturbava a amiga, parou olhando fixamente para ela.
-Que se passa, Nina? Queres contar-me o que te está a preocupar?
-Hoje, antes de vir ter contigo, discuti com o meu pai!
-Nina, o que se passou?
-Não sei bem! Às vezes parece que não falamos a mesma língua!
-Porque dizes isso?
-O meu pai só ralha, Boris! – Respondeu – é injusto quando diz que não faço nada do que me mandam fazer. Por exemplo, eu tinha acabado de ajudar a minha mãe e ela tinha dado permissão para eu vir a tua casa. Chega ele, e começa a ralhar de me ver sair de casa…disse que eu não ajudo em nada!
- Disseste-lhe que tinhas estado a ajudar a tua mãe? Que ela é que te deu permissão para saíres?
- Não me deu oportunidade…e acabámos brigando…depois ao chegar a tua casa, vi o teu pai a rir e a conversar com a Samira no alpendre, o Sammy a brincar junto deles, tu e a tua mãe dentro de casa a arrumarem-na juntos - fez uma pausa para limpar uma lágrima – confesso que senti inveja da tua família, vocês parecem ser sempre tão unidos!...
Uma lição bem aprendida - Samuel, o tigre conto 1
- Olá Samuel! – disse Mia – Que tal estás hoje?
- Muito bem! – respondeu Samuel – Sabes se chegou algum animal novo ao Zoo, para que eu possa ir observá-lo de perto?
- Não, hoje não chegou nenhum novo membro – respondeu a coruja, e acrescentou – se isso acontecer, eu virei chamar-te, todos os animais devem receber o nosso novo amigo, é importante dar-lhe as boas vindas, enfim, fazer com que se sinta em casa! – terminou de dizer Mia, com ar pensativo.
- Pois, pois! – respondeu Samuel - Boas vindas, pois bem! – disse ele rindo.
- Que queres dizer com isso? Quando os novos membros chegam a este Zoo, todos os animais se apressam a ir dar-lhes dar as boas vindas, e cada um de nós se apresenta. Não foi assim que aconteceu contigo no dia em que chegaste? – perguntou –lhe a coruja Mia, algo confusa.
- Ah, não foi bem assim! – disse o Tigre Samuel – Confessa que todos correram até à minha jaula, incluindo tu Mia, para admirares a minha beleza, elegância e a minha pelagem raiada...
Melhor dois do que um- Samuel, o tigre conto 2
- Não achas um pouco cedo para irmos até à casa do Óscar, visitar o pequeno Sebastião?
- Qual cedo, qual nada! Vamos lá depressa porque o Óscar e a Zu já estão à nossa espera para nos apresentar o seu novo bebé.
Dizendo isto, Mia avançou voando rapidamente à frente de Samuel, enquanto ele quase corria no seu encalço.
- Não podes ir mais devagar? – Protestou ele – Estou quase a correr atrás de ti! Para quê tanta pressa?
- Ora Samuel, não perdes esse teu jeitinho resmungão! Com esse passo, quando chegarmos lá, já o pequeno Sebastião terá deixado de usar fraldas – disse Mia sem se deter nem diminuir o bater das suas asas.
- Para quê tanta agitação? – continuou Samuel, sem perceber o motivo daquela pressa.
Sem ter tempo de dar qualquer resposta, Mia avistou Óscar e Zu, que mantinham o pequenino orangotango entre eles, e completamente embevecidos, admiravam o seu bebé de grandes olhos negros.
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