Marcello Silva é um contador, bacharel em direito e escritor. Com uma trajetória literária impressionante, Marcello é autor dos livros:
- "Na Garganta um Sertão Enjaulado" (3° lugar Prêmio Biblioteca Pública do Paraná 2021)
- "Homo Cactus" (2018)
- "O Pescador" (2015)
- "Instante no Coreaú" (publicado no Vol. 2 da Antologia "A Centelha")
Além disso, Marcello participou de dezenas de coletâneas e revistas pelo Brasil e é membro de diversos grupos literários, como o Clube de Leitura Café do Cazuza, Coletivo Ágora Chaval, O Piagui, Piauí Poético e Academia Piauiense de Poesia.
Seu livro "Na Garganta um Sertão Enjaulado" é um tributo às memórias afetivas de sua comunidade, transformando estórias e vivências em poesia.
A Antologia 'A Centelha' reúne 29 talentos literários, incluindo o destacado autor Marcello Silva.
Organizada pela ACCAl (Academia Comocinense de Ciências, Artes e Letras), sob a direção do então Presidente Santiago Pontes Freire Figueiredo, a antologia foi lançada no dia 21 de maio de 2025, em Camocim-CE.
Publicada pela Editora Cactus, 'A Centelha' é um testemunho da rica diversidade cultural e literária da região.
Agora, temos o prazer de compartilhar com você o texto de Marcello Silva, incluído nesta antologia:
INSTANTE NO COREAÚ
Marcello Silva
Ela solta seus cabelos cacheados com a habilidade de
E uma Dandara bradando uma espada. Põe uma flor de
ipê-roxo em cima da orelha esquerda. Pega o cesto de
roupa recolhido ao canto e separa as peças. Feita a trouxa de
roupas, ela caminha à ribeira do Coreaú com passos
apressados, jogando suas ancas de um lado para o outro,
como se dançasse ao som dos atabaques, bailando no
compasso dos tambores no terreiro de terra batida.
– Por que me olhas tanto, homem?!
– indagou ela entre
sorrisos sinuosos.
O olhar intenso parece centelhas de fogo
onde queima minha inocência. Ela continua andando. Eu
nada respondo.
A cada passo dela meu coração dispara como cavalo
selvagem em fuga. Em trotes mudos, sigo seu caminhar
sinuoso por entre as pedras e flores até o rio, exposta ao sol
primaveril.
Ela põe as roupas sobre as pedras e começa a
magia de seu trabalho. Joga água nas peças e sobre seu corpo
negro, deixando marcadas suas curvas debaixo de sua roupa.
Sua blusa amarela, levemente levantada, evidencia que está
sem sutiã. Sua saia colorida e longa esconde as terras
proibidas em cujas dimensões me perco constantemente.
Divago em suas fronteiras e entre teu relevo me escondo
como Zumbi dos Palmares
– Por que não vais pescar ao invés de me olhar com
este olhar comprido de transeunte sem rumo?
– Ela me
pergunta ao perceber meu encantamento.
– Na verdade eu que fui fisgado por ti
– respondi
devagar enquanto ela ria.
Ela joga daqui e esquiva de lá enquanto cantarola algo, deve ser algum canto para Iemanjá que brinca com a
água da cachoeira. Seus movimentos de braços, no
manuseio do sabão sobre as peças, deixam seus seios
leves e flutuantes, inundados de suor e água.
Neste
instante, ela figura-se na mais mística das criaturas.
Fascínio de Oiá-Iansã... Oxum das matas silvestres…
Este curto espaço de tempo e lugar, todas as
divindades parecem descansar á beira do rio Coreaú.
Estão a ouvir o canto suave; a ver dança sinuosa ao ainda
sentir o respirar ligeiro dela. Graciosa ave... Cheirosa
f
lor... Deusa.
Ao meu reencontro, me vejo a amando
infinitamente cada vez mais, por este instante e sempre.
Para saber mais sobre Marcello Silva e sua obra, visite:
Site: (ligação indisponível)
Instagram: @marcello_s_silva
E-mail: marcsantosilva@gmail.com
E não esqueça de conferir o site Chavalzada (www.chavalzada.com) para mais informações sobre a cultura e a literatura da região!"
1 Comentários
O texto é cheio de simbolismo e alegorias que remete á figuras pertencente ao imaginário do sertanejo em suas variadas formas cultuando personagens e entidades do nosso folclore.
ResponderExcluirParabéns!
Obrigado por comentar