Olá, pessoal! Sejam bem-vindos! Hoje tenho o prazer de conversar com Daniel Lima.
È um prazer conhecer você e saber mais sobre sua família e sua trajetória. Você vem de uma família de grandes talentos literários e artísticos, e é incrível ver como você está seguindo os passos de seu pai e tio, Arievaldo Vianna e Klevisson Vianna.
A literatura de cordel é uma parte importante da cultura brasileira, e é fantástico ver como você está contribuindo para essa tradição com seus próprios trabalhos de cordel e pesquisas. Seu TCC sobre o cordel do nordeste como ferramenta auxiliar na didática geográfica é um exemplo disso.
O projeto "Joao e Maria na casa de Rapadura" é um exemplo incrível de como você está recontando clássicos infantis de uma maneira regional e autêntica. A parceria com Raquel Silva e o desenvolvimento do formato "CORDRINHO" são também muito interessantes.
Você é um exemplo de como a literatura e a arte podem ser transmitidas de geração em geração, e como podemos contribuir para a preservação e a promoção da cultura brasileira.
Agradeço você Daniel, por conceder esta entrevista e compartilhar sua trajetória literária conosco. Sua contribuição é fundamental para enriquecer nosso espaço literário e inspirar outros escritores e leitores.
Então Daniel nos diga:
1. Como você acha que a sua formação familiar e a influência de seu pai e tio, Arievaldo Vianna e Klevisson Vianna, contribuíram para o seu interesse pela literatura de cordel?
R. Essa influência familiar vem desde os meus bisavôs, Alzira Viana de Sousa Lima e Mané Lima. Meu pai e meus tios, por exemplo, foram alfabetizados principalmente com o suporte da Bíblia e de um punhado de cordéis — a literatura comum dos sertanejos daquela época, por volta de meados da década de 1970.
Em seguida, tivemos a influência marcante do meu avô, Evaldo Lima, que ainda está presente entre nós e conserva uma memória de elefante. Ele costuma recitar poesias e cantorias que lembra de cabeça desde a infância, desde a época em que as ouviu pela primeira vez.
Além disso, fui influenciado pelos meus tios e pelo meu pai, que sempre estiveram presentes na ocupação de espaços culturais voltados à manutenção e preservação da literatura de cordel. Lembro-me de, ainda muito criança, já estar atento às declamações e às rodas de conversa entre poetas nos eventos culturais.
2. Você mencionou que seu TCC foi sobre o cordel do nordeste como ferramenta auxiliar na didática geográfica. Pode nos contar mais sobre como você vê a relação entre a literatura de cordel e a geografia?
R. A Literatura de Cordel é um meio de comunicação universal e, durante o século XX, foi um aliado poderoso na difusão de informações e notícias, principalmente entre as camadas mais pobres da população. Acredito que o cordel tem uma forte relação com a Geografia, mas não se restringe somente a esse campo científico.
Em um trecho do cordel Acorda Cordel na Sala de Aula, o meu pai, Arievaldo Vianna, destaca:
"O cordel contém ciência,
Matemática, astrologia,
Noções de física, gramática,
De história e geografia.
Em linguagem popular,
O cordel pode narrar
Tudo isso em poesia."
Ainda sobre o meu TCC, a dinâmica consiste, a priori, em realizar um resgate de uma breve história dessa literatura. Posteriormente, será realizada uma oficina ensinando os elementos primordiais na construção de um cordel — métrica, rima e oração. Em seguida, elaboramos uma declamação do cordel escolhido para buscar compreender os fenômenos de ordem geográfica presentes nele.
Como exemplo, trabalhei O Quinze em Cordel, uma releitura do clássico da escritora cearense Rachel de Queiroz, escrita em formato de cordel pelo escritor e professor doutor Stélio Torquato. Em O Quinze, é possível entender a dinâmica da seca, os elementos geográficos pertinentes ao sertão cearense e os fenômenos de ordem migratória, sob uma ótica mais sensível e realista.
3. Seu projeto "Joao e Maria na casa de Rapadura" é uma releitura do clássico infantil ambientado em um contexto regional. O que inspirou essa adaptação e como você acha que ela pode contribuir para a preservação da cultura nordestina? 4. Você desenvolveu o formato "CORDRINHO" em parceria com Raquel Silva. Pode nos contar mais sobre como surgiu essa ideia e como você vê o futuro desse formato?
R. 3-4 RESPOSTAS: O projeto e a ideia de recontar histórias, adaptando-as a uma realidade mais próxima da nossa, foram idealizados pela ilustradora e autora Raquel Silva, que também criou o Cordrinho, o folheto de cordel em formato de quadrinhos.
A Raquel chegou até mim com um esboço do roteiro e me deu liberdade de criação — e o resultado disso foi incrível! Esse trabalho já viajou até São Paulo, onde foi lançado na XVII edição da Bienal do Livro de São Paulo; posteriormente, foi apresentado em Natal, no Ciclo Natalense de Cordel; e agora, na XV edição da Bienal do Livro de Fortaleza, trouxemos a versão final. E olha, ficou um trabalho incrível — eu mesmo me emocionei ao ver essa versão final pronta.
Quanto ao futuro do Cordrinho, tanto eu quanto Raquel temos muita esperança e diversos planos para a construção de novas histórias e oficinas. Tanto o quadrinho quanto o cordel têm esse poder de cativar o jovem, a criança e o adulto — e a junção dos dois não poderia ser diferente!
Queremos que o Cordrinho, assim como o tradicional folheto de cordel, seja algo economicamente acessível ao público. Nosso objetivo é manter a estética do folheto — e é justamente isso que diferencia o Cordrinho dos Quadrinhos de Cordel que já existem atualmente: o formato e a sequência de quadrinhos soltos.
Acreditamos que contar histórias em formato de cordel, dessa maneira, ilustrada e com uma pegada mais jovem, possa ser mais atrativo ao público na atualidade, é difícil competir com as tecnologias, com o “Playstation” e com o “TIKTOK”, mas enquanto escritores e idealizadores da arte, não podemos fugir a luta, e sim buscar alternativas que sejam mais atrativas e divertidas, a ideia, além de contar a história, seria também inspirar os alunos e o público a construir o seu próprio CORDRINHO, tenho certeza que tanto para Raquel como para mim, será muito gratificante ver alguém adotar essa nossa ideia.
5. Como você acha que a literatura de cordel pode ser utilizada para promover a cultura brasileira e inspirar novos leitores?
R. A literatura de cordel, apesar de ser uma literatura escrita, tem tradicionalmente uma forte herança oral, vinda do trovadorismo e do repente. Ou seja, o cordel é escrito dentro da métrica justamente para que possa ser cantado e contado de uma forma rimada e agradável aos ouvidos.
Acredito que o cordel possui dois elementos que são chave para inspirar novos leitores. O primeiro é que o cordel é uma leitura "rápida" — rápida no sentido de não ser maçante. Os cordéis costumam ter entre 8, 16 ou 32 páginas. Alguns livros podem contar com mais páginas e estrofes, mas é uma literatura que se pode ler em questão de minutos ou poucas horas. Isso é interessante para quem ainda não desenvolveu o hábito da leitura mais densa, pois começar por histórias curtas pode ser o primeiro passo para cultivar esse hábito.
O segundo ponto é a declamação e a beleza presente na rima, que prendem o leitor ou o espectador, despertando o interesse em acompanhar a história até o final.
6. Você é professor de geografia e também escritor de cordel. Como você equilibra essas duas paixões e como você acha que elas se complementam?
R. Sim, Daviel, sou professor de Geografia. Já lecionei para turmas do Ensino Fundamental, Ensino Médio e também para o EJA (Educação de Jovens e Adultos). A educação é um desafio constante para qualquer profissional que se compromete em levar às novas gerações metodologias de ensino ativas e eficazes.
O cordel é sempre um sucesso. Sempre que o levo para minhas aulas, os alunos se encantam. É preciso zelo e cuidado na escolha de um bom cordel, que tenha rima, métrica e oração. Esse olhar criterioso para a seleção do material se desenvolve com leitura e estudo.
O livro escrito pelo meu pai, Acorda Cordel na Sala de Aula, é um material sensacional e foi meu livro de cabeceira durante a produção do meu TCC por muito tempo.
7. Qual é o seu próximo projeto literário e como você acha que ele vai contribuir para a literatura de cordel? Quem é seu maior ídolo na literatura de cordel e por quê?
R. O meu próximo projeto vem sendo elaborado desde 2024 e se chama Coletânea Cordéis do Futuro. Essa coletânea irá trazer narrativas que criticam o avanço da tecnologia e seus impactos na saúde mental e comportamental da sociedade.
A obra é inspirada em casos de ficção científica, um gênero do qual gosto demais. Este projeto pretende apresentar críticas sutis à sociedade atual. Muitos hábitos que temos desenvolvido e reproduzido são silenciosos — e também adoecedores. Para quem ficou interessado, em Julho na Caixa Cultural em Fortaleza Ceará, teremos a feira do cordel brasileiro, procurem o instagram da Tupynankim editora e fiquem por dentro de novas informações sobre esse evento que vai ser formidável.
O burnout, por exemplo, o excesso de trabalho e a velocidade com que recebemos informações têm adoecido cada vez mais a nossa população. Como sujeito inquieto que sou, senti a necessidade de trazer essas reflexões em formato de cordel.
8. Você considera que suas obras são uma forma de levar para a próxima geração o legado artístico de sua família, em especial seu pai e tio? Como você acha que pode contribuir para a preservação desse legado?
R. Eu ainda tenho muito a percorrer como autor, Daviel, mas é muito gratificante e realizador perceber que, a cada projeto e a cada trabalho, a minha escrita melhora. Para chegar ao nível do meu pai, Arievaldo Vianna, e do meu tio, Klevisson Vianna, ainda tenho que comer muito feijão com arroz — kk.
Mas, ao longo dessa trajetória, muitas pessoas têm me ajudado a crescer. Destaco os colegas de arte Rouxinol do Rinaré e seu irmão, Evaristo Geraldo, além de Patrick Lima e sua companheira e amiga Jullie Oliveira, que foram meus padrinhos e professores de métrica. Também cito outros nomes importantes, como Rafael Brito, Alberto Perdigão e Ione Severo — pessoas que sempre estão perseverando e contribuindo com meu crescimento, tanto pessoal quanto artístico.
9. O que a literatura representa para você? É uma paixão, uma forma de expressão, uma maneira de contar histórias ou algo mais?
R. Eu sempre utilizei a literatura como forma de expressão pessoal. Me considero uma pessoa extrovertida, mas tenho dificuldade para abordar certos assuntos íntimos, até mesmo com as pessoas mais próximas a mim.
Desde muito jovem, busquei nas crônicas e na poesia uma forma de desabafar, de colocar para fora o que me incomoda ou me inquieta. Quando comecei a escrever cordel — e sempre que sento, atualmente, para escrever — é estranho, mas sinto como se meu pai estivesse ali ao meu lado, me auxiliando, me dando conselhos e até alguns sermões para corrigir.
Ele era um cara muito caprichoso, e eu busco levar esse mesmo cuidado para os meus trabalhos também.
10. Qual é a sua fonte de inspiração para criar suas obras de cordel? Você se inspira em pessoas, lugares, experiências ou algo mais?
R. A minha principal fonte de inspiração, eu diria, está no meu eu superior. Sou católico, e sempre que vou escrever minhas histórias, medito e peço inspiração a Deus para narrar, nos meus versos, algo que possa ser positivo e impactante na vida das pessoas que leem.
A segunda inspiração vem da empatia. Eu diria que todo artista de verdade, antes de tudo, é um ser empático — alguém que transforma sentimentos em palavras. Essa empatia faz com que a visão de mundo se torne mais aguçada, e a escrita leva essa visão refinada ao outro.
A arte tem esse dom e esse papel: o de encantar, de renovar e de ensinar ao leitor.
11 Qual é o seu livro favorito de cordel e por quê?
R. Dos clássicos, o meu favorito é, sem dúvidas, As Proezas de João Grilo, de João Ferreira de Lima — um cordel lançado no início do século passado e que, até hoje, perdura entre todas as gerações.
Entre os contemporâneos, gosto muito de O Velho Testamento Segundo Zé Limeira, do meu pai, Arievaldo Vianna. Mas também sempre me divirto com a leitura de clássicos como O Romance do Pavão Misterioso e os cordéis de Leandro Gomes de Barros, como Juvenal e o Dragão, O Soldado Jogador, O Testamento do Cachorro, O Cavalo que Defecava Dinheiro, entre outros.
12 Se você pudesse colaborar com qualquer outro artista ou escritor de cordel, quem seria e por quê?
R. Ainda quero fazer um cordel com o meu tio Klevisson Vianna, mas não por ser somente o meu tio, mas porque temos a verve humorística muito parecida, também gostaria de fazer um trabalho junto ao Costa Barros, ilustrador e xilogravurista residente na cidade de Quixadá, e um dos meus sonhos é ter um livro ilustrado pelo BACARO ou pelo Pablo Borges, acompanho o trabalho desses caras no instagram, e é a arte deles me cativam, sem contar que levam em si o legado do pai, algo que também faço.
13. Qual é o conselho que você daria para jovens escritores de cordel que estão começando?
R. O começo nunca é fácil sabe Daviel? Escrever é um desafio, mas é também um habito, eu diria que a internet tem seus malefícios, tem! Mas também te da uma visibilidade grande, é uma janela, uma ferramenta que se usada de maneira inteligente, pode te abrir grandes portas, eu diria que o importante é começar, frequentar feiras e espaços literários ligados ao cordel, fazer amizades e contatos, saber ouvir as criticas, e principalmente! ESTUDAR, e ser humilde para reconhecer e ouvir o conselho dos mestres dessa literatura, os mestres cordelistas e a vanguarda da geração passada são criteriosos e com toda razão, se não tem métrica, não tem rima e não tem oração, desconfigura todo o gênero literário fazendo com que o cordel na sua essência não seja bem representado.
Muito obrigado Daniel Lima por compartilhar conosco sua história e experiências. Foi um prazer enorme ter você conosco!
A todos os nossos leitores, queremos agradecer pela companhia e pelo interesse em nossa entrevista.
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DANILO — Pessoal segue nas minhas redes sociais para conhecer mais sobre o meu trabalho, o meu instagram pessoal é @dannielyehudi e o meu instagram comercial é @acorda_cordel.
Ficou cuiroso para conhecer o meu trabalho? Basta seguir, ainda estou nesse desafio de alimentar melhor as redes sociais e vender o meu peixe de forma virtual, confesso que tenho esse problema, mas tenho grandes projetos paras mídias sociais em breve!
Abraço.
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